Carta Aberta dos Estudantes da Filosofia Associados ao CAFIL

Em assembleia extraordinária realizada no dia 4 de agosto de 2014, foi decidido o fim da greve dos alunos de filosofia da UNICAMP (15 votos para o fim da greve, 8 para sua continuidade e 13 abstenções). A greve foi iniciada no dia 28/05/14 e prolongou-se por 68 dias. 

Os argumentos que tiveram maior representação dos desejos e opiniões da maioria dos alunos da filosofia foram de que a manutenção da greve se tornou inviável do ponto de vista prático, já que as mobilizações dos estudantes perderam força com o esvaziamento da universidade no último mês. A partir da decisão unilateral dos docentes de suspender sua greve, julgamos que o movimento dos estudantes da filosofia, em suas atuais condições pragmáticas, não teria forças para arcar com o ônus do boicote a trabalhos acadêmicos e aulas.

Do ponto de vista político, no entanto, nossas pautas permanecem urgentes e não atendidas. Isso diante de uma reitoria que, além de irredutível para negociações, incita a desunião das mobilizações ao fazer um acordo irrisório e paliativo com os docentes, ao passo em que não está sequer disposta a cumprir acertos já feitos com os funcionários da UNICAMP, reafirmados nas circunstâncias de campanha eleitoral. A questão da permanência estudantil, que debate um bandejão com café da manhã e aos fins de semana, a abertura do projeto da ampliação da moradia para ser discutido com a população, o direito a greve, e a redução de carga horária de 15h por semana para 5h por semana aos bolsistas trabalho, se tornam mais graves e imperativas a cada dia. A falta de contratação de professores torna as próprias condições de sobrevivência do curso de Filosofia duvidosas, visto que o quadro de docentes para graduação e pós conta hoje com 13 professores, número contrastante com os cerca de 30 docentes que já totalizaram essa soma. Não há apontamentos no sentido de repor os docentes perdidos nos últimos dez anos. Ademais, o problema em relação à adequação da grade curricular a partir das novas medidas para validar a licenciatura do curso. 

O debate do financiamento estudantil, por uma universidade pública, gratuita e de qualidade, sem privatizações, é o carro forte dessa crise de má gestão, que sucateia gradualmente em vários aspectos o ensino das estaduais paulistas. É com grande pesar que observamos os responsáveis por essa crise entoando a resposta intransigente de Reajuste 0, mesmo diante de uma mobilização estadual que reivindica uma nova política de repasse permanente para reverter o explícito buraco orçamentário. É demasiadamente preocupante que essa questão seja deixada para seguir conforme o “fluxo natural” das coisas, o qual significa a aceitação das políticas de precarização do estado de São Paulo, que se afirmam sobre a universidade.
De todas essas pautas, no entanto, destacamos e reafirmamos a solidariedade à greve dos trabalhadores. Por hora, os docentes abandonam a mobilização estadual e, sobretudo, a mobilização dentro da própria Unicamp sem uma real preocupação com as pautas específicas dos demais setores. Mas nós, enquanto alunos, ainda faremos o possível para contribuir com as pressões sobre a reitoria, não deixando que as aulas e avaliações finais sejam usadas como um instrumento de assédio moral. 

Acreditamos que não há motivo para espirito derrotista e há sim necessidade de construirmos debates, e uma continuidade nas mobilizações, com um maior teor crítico dado os aprendizados que tivemos depois de tudo o que ocorreu. Por fim, encerramos com um agradecimento a todos que mantêm a luta e a todos que participaram da mobilização da greve dos alunos da filosofia que, apesar de ter tido erros e dificuldade de organização, conseguiu, sem nenhuma base sólida de movimento estudantil anterior, avançar no debate e nas possibilidades futuras de construção coletiva. 

Cordialmente, 
Discentes de Filosofia da UNICAMP Associados ao CAFIL.